Apresentação


O 3º Curso de Iniciação e Desenvolvimento em Modelismo Naval iniciou-se no Núcleo Naval do Ecomuseu do Seixal, na Arrentela, no dia 7 de Setembro de 2010.
As actividades incluem um programa teórico sobre princípios e procedimentos de construção naval em madeira e técnicas de modelação de embarcações históricas e tradicionais e uma vertente prática em que cada formando constrói um modelo de uma Muleta do Seixal, à escala 1/30.
O curso destina-se a jovens e adultos que pretendam conhecer os rudimentos técnicos de modelação à escala de embarcações históricas e possibilita a construção de um modelo de uma embarcação tradicional do Seixal, com rigor histórico e qualidade museológica.
A iniciativa possibilita ainda o desenvolvimento de competências técnicas no uso de ferramentas manuais e mecânicas, pois a oficina do Núcleo Naval está equipada com um parque de máquinas de precisão indispensáveis à prática do modelismo profissional e ao ensino da actividade.
Esta iniciativa é também uma excelente oportunidade para estudar e divulgar, do ponto de vista arqueológico e etnográfico, um barco que suscita curiosidades e paixões, sendo objecto preferencial de estudo e de construção à escala por parte de muitos modelistas nacionais e estrangeiros.
Os interessados poderão acompanhar o desenvolvimento dos trabalhos na Internet, em http://curso-muleta-do-seixal.blogspot.com . Durante o curso pode também, mediante marcação prévia através do email: ecomuseu@cm-seixal.pt, visitar o Núcleo Naval da Arrentela, Av. da República, Arrentela, Seixal e seguir ao vivo o decorrer das actividades. Os trabalhos decorrentes das actividades dos cursos anteriores podem ser consultados na Web a partir de http://cursos-modelismo-ecomuseu.blogspot.com  (1º curso sobre a construção de uma canoa da picada) e http://curso-enviada-do-seixal.blogspot.com (2º curso sobre a construção de uma enviada do Seixal).

A partir desta página pode visualizar:

Objectivos do curso

  • Assimilar conteúdos básicos sobre a história das embarcações e da construção naval.
  • Assimilar conteúdos sobre a nomenclatura e a tecnologia de construção das embarcações.
  • Assimilar conteúdos teóricos sobre as técnicas básicas de construção de modelos de embarcações.
  • Desenvolver práticas de iniciação e desenvolvimento nas técnicas de modelismo naval.
  • Desenvolver competências práticas no uso de ferramentas de precisão.
Metodologias
  • Desenvolvimento de competências teóricas através de prelecções sobre navios e modelismo, no início das sessões.
  • Desenvolvimento de competências práticas pela construção de um modelo, assistido por um técnico especializado em modelismo.
  • Estímulo à produtividade por interacção do grupo e troca de experiências e resultados entre participantes.
  • Estímulo à produtividade pela promoção institucional dos trabalhos e divulgação na WEB. 
 Conteúdos teóricos
  • Como e porque se constrói um modelo?
  • Nomenclatura geral do navio.
  • Os planos – caracterização e leitura
  • Apontamentos sobre a história do navio
  • Apontamentos sobre a história da construção naval em madeira Construção naval na Pré-história na Antiguidade
  • Construção naval na Idade Média
  • Desenho e concepção da nau da Carreira da Índia.
  • Os barcos do Tejo
  • Noções básicas sobre o aparelho dos navios, embarcações auxiliares e sobre artilharia a bordo
  • Técnicas e estilos de modelismo.
  • O modelismo de arsenal
Conteúdos práticos 
  • Desenho e corte das peças para montagem da estrutura
  • Afinação e colagem das balizas sobre a quilha
  • Primeiro forro
  • Segundo forro
  • Forro do convés
  • Preparação e aplicação dos elementos do convés
  • Montagem e aplicação do leme
  • Preparação do arvoredo
  • Mastreação
  • Confecção do poleame
  • Colocação do cordame fixo
  • Preparação e aplicação das velas
  • Colocação do cordame de laborar
  • Acabamentos

A Muleta do Seixal

A Muleta suscita controvérsias e paixões e tem sido considerada “ a mais extraordinária de todas as embarcações tradicionais portuguesas”. Trata-se de um ícone do Tejo e do Seixal e constitui um interessante objecto de estudo, tendo em conta as suas peculiaridades funcionais, técnicas e morfológicas.
Há registos documentais que se reportam a embarcações denominadas  “muletas” nos finais do século XVI e nos princípios do XVII, mas não é certo que haja correspondência entre o barco que a iconografia e a história consagrou como Muleta e as embarcações referidas no Regimento dos Barqueiros, de  1572, no Livro da Fabrica das Naos, de Fernando Oliveira, (circa 1580) e no Livro das Grandezas de Lisboa, de Frei Nicolau de Oliveira, de 1620.
Em 1880, o Vice-Almirante Pâris, nos seus Souvenirs de Marine Conservés, onde publica os planos e os desenhos da embarcação que se tornou mundialmente conhecida, diz-nos que “ a Muleta é muito antiga…”, mas não avança com uma origem para o barco que, segundo se crê, andará por meados do século XVII. Pâris adverte no entanto que a muleta “ vai brevemente desaparecer”, confirmando assim um juízo final que Ramalho Ortigão já havia prenunciado nas Farpas, que escreveu em 1876, onde se lê que “… as elegantes muletas do Seixal (…) infelizmente tendem a desaparecer da nossa baía”.
O barco que é arcaico na forma do casco e bizarro na configuração do aparelho continuará, no entanto, a sua estranha forma de pesca de arrasto lateral, atravessada ao vento, até à viragem para o Século XX, sendo substituído pelos botes da arte da tartarenha, que prolongam a actividade até 1928.
Do ponto de vista dimensional não existe um registo padrão para as muletas, cujo comprimento entre paralelas andará entre os 18 e os 25 metros ao que corresponderá uma tonelagem que poderá situar-se, respectivamente, entre as 80 e as 150 toneladas.
A proa é redonda, a popa é fortemente encurvada, com painel ogival. O fundo é arredondado e a quilha pouco pronunciada. Tem um leme em forma de cimitarra com a sua parte superior, a cachola, a ser atravessada no sentido transversal por um pau denominado xarolo, em cujas pontas se fixam uns cabos chamados gualdropes e que servem para manobrar a embarcação.
O convés pode ser corrido, com escotilhas de carga ou dispor de um largo poço, na ré, que vai de borda a borda.
Arvora um só mastro fortemente inclinado para vante onde cruza uma verga latina constituída por uma só antena. O aparelho vélico é bastante complexo. Quando não está na sua função de arrasto, o barco enverga um grande latino triangular e uma vela de proa denominada polaca. Na faina de arrasto lateral enverga um conjunto de velas auxiliares determinado pelo mestre e que, normalmente, era composto por duas varredouras na ré e na vante por um conjunto de velas composto por uma varredoura, uma polaca, uma cozinheira, um pano da vara e dois toldos moletins.
A tripulação era composta por uma campanha de 15 homens, dirigidos por um mestre e auxiliada por dois moços.
O barco largava de Cascais e pescava no “Mar da Muleta”, numa área delimitada pelo Bugio, Cabo da Roca e Cabo Espichel. Em situações de mau tempo, a muleta arrastava as suas redes pelo fundo do Mar da Palha. As muletas só regressavam ao seu porto de armação no Seixal para as festividades do Natal e de São Pedro e cabia às enviadas o transporte regular de peixe entre o barco e os mercados, sendo que o transbordo do peixe da muleta para a enviada era efectuado “sob vela”, isto é, em andamento.


O modelo  à escala 1/30

O modelo da Muleta do Seixal tem um comprimento total, com aparelho, de aprox. 100 cm e uma largura de 13 cm. O casco leva dois forros de madeira ( marupa e bétula) sobre uma estrutura de contraplacado marítimo. O mastro e as vergas são de bétula, o aparelho fixo e de laborar é em linho e as velas em meio linho.
Tendo em conta o grau acentuado de dificuldade da embarcação, as técnicas de modelação e as tipologias representadas serão adaptadas às aptidões dos alunos. 

 Formador

Carlos Montalvão: Modelista profissional, trabalha no Núcleo Naval do Ecomuseu Municipal do Seixal; é mestre em História Marítima (Faculdade de Letras/Escola Naval) especializado na história da construção naval, autor de modelos em exposição museológica, de artigos sobre modelismo publicados em Portugal e no estrangeiro e de um livro sobre construção de modelos, editado pela Comissão Portuguesa de História Militar, que foi galardoado com o Prémio Almirante Teixeira da Mota 2008, da Academia de Marinha. Email: carlosmontalvao@gmail.com  ou carlos.montalvao@cm-seixal.pt 
Url:  http://carlosmontalvao.blogspot.com
Mov. (++) 351 93 641 13 00.